O mangostão agora faz parte do cenário das margens da Represa de Água Vermelha. O pomar já tem 900 pés e a maior atração para quem planta é o preço: R$ 4,00 a fruta
Antônio J. do Carmo
O mangostão está sendo cultivado no Estado de São Paulo, pela primeira vez, em escala comercial. A lavoura pioneira tem 900 pés plantados no município de Cardoso, às margens do lago da Hidrelétrica de Água Vermelha, no norte do Estado onde sempre faz calor. O mangostão detesta o frio. Trata-se de um projeto que deverá se consolidar no ano 2000, quando os investidores esperam colher a primeira safra economicamente significativa. No Brasil, o maior produtor dessa fruta exótica tem lavoura de 1,5 mil árvores e está em Santa Isabel do Pará (PA).
Oscar Botura Filho, de 35 anos, que há três virou também sitiante, foi quem decidiu investir no mangostão. Ele é empresário do setor de transporte coletivo na região de Votuporanga (SP), namorou o mangostão por cinco anos antes de decidir formar pomar. Persistente Botura conseguiu entrar na seleta comunidade dos que dominam a tecnologia de produção. Não esconde o entusiasmo principalmente por ter superado a fase inicial de instalação do plantio, quando muitos amigos recomendavam desistir da idéia porque a àrvore demora até oito anos para atingir o melhor estágio de produção.
Mas nada melhor que o preço da fruta para aumentar o gosto de Botura pelo mangostão. Nos mercados do Rio e São Paulo, o fruto é vendido por até R$4,00 a unidade. “Isso é mais do que pinha, tenóia, manga para exportação e outras frutas especiais da região tropical”, avalia. Uma boa parte desse faturamento é consumido em transporte. A safra da Região Norte percorre mais de 3 mil quilômetros até chegar aos mercados consumidores do Sudeste, principalmente São Paulo. E é essa distância que Oscar pretende ter como margem de vantagem na concorrência de preço. “Por enquanto, vivo uma grande expectativa”, diz.
A árvore é originária do Sudeste Asiático e tem cultura comercial em climas tropicais da Africa e Austrália. No Brasil, as lavouras particulares mais antigas instaladas no Norte e Nordeste, têm 15 anos. Dados da Cooperativa dos Produtores Baianos indicam que existem cerca de 23 mil pés em produção no País. A maioria deles vai bem em regiões onde chove muito e a umidade relativa do ar beira 85%.
Clima: Bem diferente do Noroeste Paulista, onde as condições climáticas precisam ser ajustadas pela tecnologia. As árvores de mangostão plantadas em quintais e jardins do Interior Paulista nunca produziram frutos de bom tamanho e saborosos como os do Norte. Mas Botura, depois de muitas observações e troca de idéias com gente do setor, concluiu que, aumentando a oferta de água para as plantas, corrigindo o solo e melhorando a umidade relativa do ar poderia aumentar a oportunidade de ter boas colheitas. Foi isso o que ocorreu com a seringueira. Os índices de produtividade na Região Sudeste superam bastante o das árvores exploradas na Região Amazônica, onde a planta é nativa.
PROJETO TERÁ 2 MIL ÁRVORES EM 30 HA
O Sítio Taquari terá somente lavoura de mangostão. São 30 hectares, nos quais deverão ficar 2 mil árvores. O espaçamento é de 5 metros entre as mudas por 5,5 metros entre as ruas. O lago da Hidrelétrica de Água Vermelha oferece, além de vista de cartão postal, a garantia de qua não vai faltar água ou umidade no ar para a plantação progredir. A média de umidade esteve acima dos 75% este ano. Na última semana ela atingiu 80%. O custo com instalação do sistema de irrigação não poderia ser finaciado porque a lavoura é considerada exótica e de risco. Mas a irrigação é a alma dessa atividade. Cada árvore precisa de 40 litros de água por dia no ínicio do desenvolvimento e, na fase adulta, chega a precisar de 160 litros por dia. O equipamento instalado na lavoura por Botura foi dimensionado para aplicação de até 200 litros/dia. A microaspersão automática foi a solução encontrada pelo Agrônomo Marcelo Akira, contratado por Botura, não só para tornar o sistema mais eficiente, como diminuir o custo da mão-de-obra. Akira é formado pela UNESP Ilha Solteira, escola que torna seus alunos especialistas em irrigação, treinando-os para o aproveitamento das águas em lagos das hidrelétricas.
Akira diz que a lavoura de mangostão se enquadra dentro da concepção de aproveitamento da pequena propriedade em atividades de exportação agrícola sem degradação do ambiente e com diversificação da produção rural. Atualmente existem algumas dezenas de sistemas de irrigação que utilizam água de reservatórios da hidrelétricas no Noroeste do EStado. A maioria deles abastece lavouras de feijão e de milho. A microaspersão para frutíferas vem ocorrendo como alternativas em pequenas e grandes propriedades. Há agricultores investindo também na irrigação por pivô central, em Castilho e Itapura.
O sistema do Sítio Taquari é acionado por um motor elétrico de 15 cavalos. Ele leva água a 2 mil plantas. Uma bomba de sucção submersa no lago abastece a estação de recalque. Ela tem mobilidade porque o nível do reservatório oscila conforme a atividade de geração da usina. As ruas de plantas são irrigadas automaticamente e o equipamento tem um dispositivo que evita a sobrecarga do equipamento. Graças a isso custo mensal de energia tem sido inferior a R$70,00 este ano. No período seco de agosto a outubro, a expectativa é de que o custo com energia fique em torno de R$130,00 por mês. Na opinião de Botura “‘e barato, se comparado com o benefício da água para cada planta”.
O Estado de São Paulo, 01 de Maio de 1996, p. G10.