Irrigação em pastejo rotacionado é a receita de sucesso para pequenos produtores de leite

08/04/2006

ereira Barreto – 08 de abril de 2006 – Investir em novas tecnologias é fundamental para a sobrevivência dos pequenos produtores de leite. O mercado ficou muito mais exigente quanto à qualidade do produto após a entrada em vigor da Instrução Normativa 51, em julho do ano passado, que estabelece critérios rigorosos para o setor.

A preocupação com a qualidade deve ser constante desde a formação de pastagens para o gado leiteiro. Pesquisas da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) apontam, por exemplo, que o sistema de pastejo rotacionado irrigado garante produção de leite acelerada com qualidade.

O processo é simples, há melhor aproveitamento das pequenas áreas e o custo é considerado baixo, por isso é um investimento adequado às necessidades dos pequenos produtores. Difundida com sucesso na região noroeste paulista, onde pecuaristas têm obtido ganhos de até 60% na produção de leite, a técnica começa a ganhar espaço na região da Alta Sorocabana.

O Dia de Campo, realizado no último sábado em Santo Anastácio, foi dedicado ao assunto. Noventa e cinco produtores de leite da região participaram do evento, organizado pela IRRIGATERRA, Sindicato Rural de Santo Anastácio e Estância Três Irmãos.
Na ocasião, foram realizadas duas palestras com os temas “Técnicas de Implantação e Manejo de Pastagem Intensiva” e “Sistemas de Irrigação para Pastagens”, proferidas, respectivamente, pelo engenheiro agrônomo João Felix Toscano, da Cati (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral) Nhandeara e Marcelo Akira Suzuki, gerente comercial da IRRIGATERRA.

“O pequeno produtor precisa ter um custo baixo para sobreviver a qualquer crise. Manter o gado no pasto, no sistema de pastejo rotacionado irrigado e adubado, sai muito mais barato do que mantê-lo no cocho. Além disso, são enormes os ganhos na qualidade e na quantidade de leite”, comentou Toscano. O engenheiro agrônomo explicou que a rotação respeita o ciclo do capim (de, em média, 30 dias) e torna a produção na área mais eficiente e que, aliada à adubação, a irrigação permite que o capim absorva mais nutrientes.

“Antigamente, no sequeiro, adubava-se o pasto somente quando chovia, para que o capim absorvesse melhor os nutrientes. Dessa forma, o pasto era aproveitado por apenas seis meses e o custo de manutenção ficava altíssimo. Com a irrigação, o produtor tem pasto o ano inteiro”.

Quando a pastagem intensiva começou a ser colocada em prática, pesquisadores e engenheiros agrônomos constataram que, mesmo com a irrigação, o capim não crescia nos meses de junho, julho e agosto (inverno), então todo o gado tinha que ir para o cocho. Há um ano, os pecuaristas de leite foram orientados a adicionar aveia e azevém ao pasto, durante os meses frios do ano. O resultado foi a manutenção das vacas no pasto o ano todo. “As sementes de aveia e azevém são jogadas no pasto roçado. As vacas pisoteiam o solo, as sementes germinam e o alimento do gado está garantido. Quando termina o frio, termina também o ciclo da aveia e do azevém e o capim cresce novamente”, relatou Toscano. Nesse sistema, metade do gado vai para o cocho e metade fica no pasto. “Hoje, com o pastejo rotacionado irrigado no período chuvoso, conseguimos manter cerca de 13 unidades por hectare; no inverno, a média é de 6 unidades por hectare, fora o repasse”, completou.

Pioneirismo
O pecuarista José de Jesus Santos é pioneiro, na região Alta Sorocabana, no investimento em pastagem intensiva. Há dois meses a IRRIGATERRA implantou o sistema de irrigação por aspersão fixa em sua propriedade, a Estância Três Irmãos e, mesmo sendo recente, o sistema já deu resultados. “A qualidade do pasto é outra. Antes, como eu dependia só das chuvas, não ficava seguro quanto à produção de leite e gastava muito com a alimentação do gado no cocho. Agora, espero trabalhar menos preocupado”. Atualmente, Jesus possui 40 vacas que produzem, no total, 600 litros por dia. Com a irrigação no pastejo rotacionado, ele calcula que em 30 dias poderá obter 800 litros por dia. “Estou muito feliz, é um investimento que realmente compensa”, comemorou.

O engenheiro agrônomo Mauro Takao Suzuki, da IRRIGATERRA, salientou que a atuação da empresa na região oeste paulista é estratégica. “É uma região com alto potencial para as pecuárias de corte e leiteira. Para muitos produtores, a irrigação em pastejo rotacionado é novidade, então difundimos a tecnologia para que eles possam se destacar no mercado competitivo”. O gerente da IRRIGATERRA complementou a exposição de Takao: “Com a adoção das novas tecnologias, os produtores podem aumentar sua produção e sua rentabilidade. Na Alta Sorocabana, é visível o contraste entre as grandes e pequenas propriedades, por isso há muitos assentamentos, conflitos fundiários. Como a região tem grandes áreas de cana de açúcar, os pequenos produtores de leite precisam evoluir, senão ficarão sufocados”.

Entraves
O presidente do Sindicato Rural de Santo Anastácio, Ângelo Munhoz Benko, destacou que os entraves para o investimento em novas tecnologias, na região, são financeiros. “É um problema governamental, vigente em todo o País. Faltam subsídios, valorização do produto nacional e nem sempre o produtor tem a cultura de querer arriscar para investir”.

O pecuarista de leite Valdeci Trava disse que as dificuldades na região oeste do estado são também relativas à falta de mão-de-obra qualificada, falta de água e de políticas adequadas de preço do leite. “Precisamos de uma saída para o setor. Muitos produtores querem investir, mas não têm dinheiro. Às vezes, é preciso um certo sacrifício. Eu, por exemplo, trabalho com ordenha mecânica, inseminação artificial e pastejo rotacionado, mas não tenho irrigação. Tenho que me adequar ao mercado, por isso farei um esforço e investirei, em breve, na irrigação”.

Uma das melhorias prometidas para os pecuaristas de leite de Santo Anastácio é o programa de inseminação artificial gratuita. “É uma de nossas propostas de governo que pretendo colocar em prática ainda este ano”, relatou o prefeito da cidade, Roberto Volpe. Para ele, o Dia de Campo foi uma oportunidade excelente de aquisição de novos conhecimentos. “O acesso às novas tecnologias e a troca de experiências motivam os pecuaristas”, finalizou.

INFORME IRRIGATERRA
No evento foi também lançada mais uma edição do INFORME IRRIGATERRA, publicação que tem por objetivo aproximar os agropecuaristas das novidades e casos de sucesso na agricultura irrigada. Nesta edição pastagem irrigada, seringueira, citricultura e as ações e projetos da IRRIGATERRA para a modernização da agricultura, incluindo a parceria com o SEBRAE para a melhoria da pecuária leiteira foram os destaques.

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