A área irrigada na citricultura registrou aumento de 1,5% em 1999 para 10,2% do parque citrícola em 2004. Atualmente, cerca de 66,8 mil hectares contam com sistemas de irrigação que asseguram incremento na produtividade e redução nos gastos com a aplicação de fertilizantes e defensivos agrícolas. A seca do segundo semestre de 2004 e o veranico que assolou a região em fevereiro transformaram-se em um forte argumento para convencer o produtor a assegurar níveis de produtividade por meio da irrigação.
Segundo o coordenador do Departamento de Irrigação da Unesp de Ilha Solteira, Fernando Braz Tangerino Hernandez, a ocorrência de períodos de estiagem prolongados com altas temperaturas, que provocam índices de evapotranspiração acentuados, justifica os crescentes investimentos em sistemas de irrigação no Noroeste e Oeste paulistas. Marcelo Suzuki, da empresa IRRIGATERRA, de Pereira Barreto, explica que a produtividade de um pomar pode variar de safra para safra em função do manejo da plantação e também pelo fornecimento de água associada à fertirrigação. Por isso, uma das alternativas que valorizam o setor citrícola é a irrigação, tecnologia cada vez mais necessária ao agronegócio que conta com as vantagens da modernidade, favorecendo a lucratividade para o empresário rural, afirmou.
A colheita das frutas, que começa em maio, coincide com o início a estiagem paulista. A florada da laranja ocorre após estresse hídrico e o pegamento da florada e manutenção de chumbinhos (estágio quando os frutos estão do tamanho de um grão de café) dependem da oferta de água no momento preciso. Suzuki explicou que a empresa tem feito um trabalho de conscientização dos produtores de que, apesar da região não enfrentar um inverno rigoroso, com acentuadas quedas de temperatura, tem a falta de água como limitante à produção agrícola.
O custo de um sistema de irrigação depende do modelo a ser implantado (pivô central, canhão, microaspersão ou gotejamento) e da cultura que será irrigada, mas pode variar entre R$ 2 mil a R$ 6 mil por hectare. No caso da citricultura, a implantação de irrigação custa cerca de R$ 4,5 mil por hectare e permite uma resposta muito rápida com redução nas perdas por abortamento da florada e de chumbinhos. Atualmente, a empresa mantém carteira com 750 clientes. Uma conseqüência direta da falta de água é fácil de ser constatada na colheita. Devido ao estresse hídrico, são necessárias muito mais frutas para encher uma caixa padrão (com 40,8 quilos). Suzuki afirmou que o uso de dois meses consecutivos de irrigação permite incremento de 20% a 25% na produção do pomar. Além disso, na citricultura, a irrigação ajuda na indução da florada.
Pomar usa sistema localizado
O produtor Flávio Junqueira Cimino cultiva 156 hectares de laranja na região de Tanabi. Há três anos, parte do pomar passou a contar com sistema de irrigação localizada. Através do sistema de fornecimento de água, conseguiu obter uma produtividade média de 3,8 caixas por planta, um incremento de produção da ordem de 171% e quase o dobro da média obtida nos pomares do parque citrícola paulista. Antes da irrigação a média, era de 1,4 caixa por pé, afirmou. Cimino usa irrigação por gotejamento e libera 236 metros cúbicos de água por hora. Ele adverte aos interessados que é necessária aprovação do projeto nos órgãos ambientais.
Na safra passada, Cimino conseguiu, com irrigação, aumentar em 40% o volume dos frutos. No meio do ano de 2004, o citricultor utilizou o estresse hídrico para induzir a florada de pêra-natal e, a partir de agosto, iniciou a irrigação. Todo mundo que conhece sabe que são necessários 275 frutos para encher uma caixa 40,8 quilos e, graças a irrigação, usei 226 frutos. Outra vantagem está relacionada à adubação e aplicação de defensivos. Só de adubo, sem contar maquinaria, implemento e mão-de-obra, houve uma economia de 30% em relação ao que gastava com adubo sólido, afirmou.
Além disso, antes de utilizar a fertirrigação, era necessário uma semana e meia para adubar o pomar. Cinco dias por semana e oito horas por dia. Usava trator, o tratorista e mais uma pessoa para ajudar na adubação, afirmou. Atualmente, ele mantém um funcionário treinado que inicia o processo de fertirrigação a partir das 21h06. Com isso, a propriedade beneficia-se do Programa Verde, com preço reduzido de tarifa. Para monitorar a necessidade de irrigação, Cimino utiliza tensiômetros, um equipamento formado por dois tubos de PVC, lacrados na ponta por cápsulas de gesso, enterrados em diferentes profundidades no pomar. Cada tubo é completado por água e recebe uma pequena mangueira, cuja outra extremidade entra em um frasco com mercúrio, formando vasos comunicantes. à medida em que ocorre perda de água no solo, o nível de mercúrio sobe na mangueira. A partir de um determinado nível, deve ser iniciada a irrigação.
CSDav, o vírus da morte súbita
Saiu o primeiro artigo científico assinado pelo corpo de pesquisadores da Alellyx Applied Genomics, empresa privada de biotecnologia nascida a partir do Programa Genoma Fapesp. Foi publicado neste mês de março na Journal of Virology, com a caracterização genética e molecular de um vírus que a equipe de pesquisadores da Alellyx considera um forte candidato a agente causador – ou ao menos um dos agentes causadores – da morte súbita dos citros (MSC), doença que já se instalou em cerca de 2 milhões de laranjeiras nos estados de São Paulo e Minas Gerais. De acordo com esse estudo, há 99,7% de associação entre o agora chamado Citrus sudden death-associated virus (CSDaV, ou vírus associado à morte súbita dos citros) e o mal capaz de matar uma laranjeira ou uma tangerineira em poucos meses.
Mesmo assim, não se pode dizer que seja realmente esse o responsável pela morte das plantas. É preciso ainda demonstrar que existe uma relação clara de causa e efeito, o chamado postulado de Koch, que consiste em inocular o suposto agente causador da doença em organismos sadios, nesse caso as laranjeiras, e verificar se elas contraem ou não a enfermidade. É um trabalho demorado, no qual é preciso ceder aos caprichos do vírus, cujo período de incubação pode chegar a três anos. Só então é que aparecem os primeiros sintomas: a perda de brilho das folhas e o bloqueio dos vasos que conduzem a seiva da copa para as raízes. Então as raízes morrem e, com elas, as plantas.
O estudo de dez páginas que saiu na Journal of Virology, uma revista internacional de primeira linha no campo da virologia, indica que é possível conciliar o desenvolvimento de produtos com a pesquisa científica de alta qualidade, como pretendiam os cinco fundadores da empresa – todos eles especialistas em biologia molecular e bioinformática que não queriam abdicar do rigor científico com que haviam trabalhado nas universidades de onde provinham.
Mudança de conceitos
Alguns conceitos sobre a morte súbita dos citros mudaram desde novembro de 2002, quando a equipe da Alellyx recebeu as primeiras amostras de plantas contaminadas e se pôs à caça do agente causador. No início, se suspeitou que se tratava de uma mutação do vírus da tristeza dos citros, uma doença que consumiu 90% dos laranjais paulistas entre 1939 e 1949. Depois, as diferenças se impuseram e agora a equipe da Alellyx demonstra que o CSDaV é um novo membro do gênero Marafivirus, integrante da família Tymoviridae, enquanto o vírus da tristeza pertence à família Closteroviridae. Mas ainda não se descarta a possibilidade de que os dois possam atuar em conjunto como causadores da morte súbita. Hoje se sabe como conter a morte súbita: usando-se porta-enxerto – a planta sobre a qual cresce a espécie de laranja que se deseja cultivar – resistente, embora as alternativas mais eficazes exijam um cuidado extra, a irrigação.
Fonte: Carlos Fioravanti – Revista Fapesp
Diário da Região, São José do Rio Preto, 11 de abril de 2005