Integração lavoura-pecuária e irrigação

15/07/2004

15 de julho de 2004 – O Prof. Dr. Luiz Malcolm Mano de Mello, da Área de Engenharia Rural da UNESP Ilha Solteira é responsável por ensino, pesquisas e difusão de tecnologias ligadas à integração lavoura-pecuária e atualmente é um dos profissionais mais respeitados pelo mercado. INFORME IRRIGATERRA entrevistou-o.

IRRIGATERRA: Qual é a grande falha dos pecuaristas, especialmente produtores individuais de pequeno porte no campo da produtividade?
Malcolm: A falha dos pecuaristas é em relação ao manejo dos seus pastos, eles sempre colocam uma lotação acima da capacidade de suporte do pasto, não respeitando a disponibilidade de oferta de forragem para determinar a lotação e conseqüentemente vai exaurindo o pasto e este vai se degradando.

IRRIGATERRA: Qual o motivo?
Malcolm: A falta de correção do solo, pois os pecuaristas formam o pasto, geralmente após dois anos de roça e inicialmente esse pasto aproveita a adubação residual da cultura anterior. No primeiro ano ele tem uma capacidade razoável, caindo no segundo ano e a partir do terceiro ano cai muito e assim por diante, e eles tentam manter o mesmo rebanho nesse pasto sem adubação do pasto, conseqüentemente vai faltar forragem, o gado tem o ganho de peso prejudicado, a produção de leite prejudicada, e o pasto cada vez mais se degradando.

IRRIGATERRA: O que seria a integração lavoura-pecuária?
Malcolm: É um sistema de produção onde o produtor pratica as duas atividades, ou seja, agricultura e pecuária na mesma área, podendo ser no mesmo ano ou durante alguns anos, podendo fazer lavoura na área e depois disso ele volta com pastagem nessa mesma área e assim sucessivamente. Outra modalidade é ele utilizar lavoura no verão e como cultura de outono ele plantar milheto para pastejo no inverno. Essa é uma boa opção para a região oeste do Estado de São Paulo. Produtores que tem metade da sua área com lavoura e metade da sua área com pastagem, fazendo uma rotação a cada dois ou três anos são os produtores que têm apresentado um melhor desempenho dos animais tanto na produção de carne e de leite, porque têm sempre pasto renovado, desta forma ele fazendo uma boa lavoura obrigatoriamente ele vai ter que fazer uma boa correção de solo uma boa adubação e vai ter uma residual do pasto para os três anos de pasto.

IRRIGATERRA: Como tem sido a atuação da UNESP Ilha Solteira nesta área?
Malcolm: Nós temos várias ações na região tanto na pesquisa, quanto na parte de divulgação de tecnologia, validação de tecnologia em propriedades rurais da região, assim como em consultoria, repassando os dados obtidos em pesquisas. Nós temos tido resultados fantásticos principalmente nas áreas de pivô central, aumentando bastante a capacidade de suporte dos pastos. Nós tivemos experimentos grandes na Fazenda Bonanza, da Pecuária Damha, aonde trabalhamos com sorgo de pastejo no intervalo entre uma lavoura e outra embaixo de pivô central, e nós tivemos em 84 dias de pastejo em sorgo forrageiro um ganho de 21 arrobas por hectare.

IRRIGATERRA: Neste contexto, o uso da irrigação é importante?
Malcolm: É bastante importante, embora que possa se fazer integração da cultura pecuária em área de sequeiro, mas como a nossa região é uma região de solo bom, topografia boa, clima muito favorável tanto para agricultura como para pecuária, pois temos temperatura e luminosidade o ano todo e poucos períodos do ano em que há limitação de crescimento de capim. Irrigando nós potencializamos todos os outros fatores de produção. Sem irrigação nós ficamos temerosos de adubar e não conseguirmos os resultados pretendidos.

IRRIGATERRA: Poderia dar outros exemplos de lavouras irrigadas na região?
Malcolm: Temos vários outros exemplos na região, como a Fazenda São Joaquim e outros produtores na região de Itapura e Castilho que já têm diversos pivôs e estão instalando mais. A irrigação na região é fundamental para se ter garantia de duas safras por ano e muito boas. Por exemplo uma boa safra de soja no verão e uma boa safra de milho no outono/inverno.

IRRIGATERRA: Qual seriam os custos e as receitas ligadas à integração lavoura-pecuária na nossa região?
Malcolm: Nós temos exemplos de área irrigada de soja plantada diretamente sobre pastagem com custo em torno de R$ 1.300,00 por hectare, com a produção média de 60 sacas por hectare, dando uma receita em torno de R$ 2.700,00, ou seja, com receita liquida de R$ 1.400,00 por hectare.

IRRIGATERRA: Com irrigação, como fica o tempo de abate dos animais?
Malcolm: O tempo de abate depende da idade desses animais que entram no sistema e a qualidade genética deles, onde se tem um maior ganho por área é entrando com animais por volta de 220 kg e tirando-os do pivô com 380 kg e a partir daí ele vai para um confinamento. O ganho médio por cabeça no pivô é entre 550 e 700 gramas por animal/dia. O tempo de abate, então vai ficar na dependência do peso que esse animal entra no pivô.

IRRIGATERRA: Quais as culturas que ser podem implantadas em esquema de rotação?
Malcolm: Na região oeste paulista podemos trabalhar com soja, milho, arroz, feijão ou algodão, isso como culturas produtoras de grãos. Para produção de silagem podemos trabalhar com milho, sorgo ou aveia. Para pastejo, podemos trabalhar no pivô com sorgo forrageiro, aveia, no inverno com azevém, além dos pastos. Nós temos diversas possibilidades quando se tem uma área de integração sob irrigação.

IRRIGATERRA: E a pecuária leiteira pode se beneficiar da irrigação?
Malcolm: Eu acredito que a pecuária leiteira pode se beneficiar da irrigação muito mais do que a pecuária de corte. Enquanto que na pecuária de corte se entra com animais jovens no pivô e esses vão crescendo, então a quantidade de UA que você tem por hectare naquele mesmo rebanho vai aumentando, tendo que se ajustar a lotação. Na pecuária leiteira, normalmente a lotação é fixa por área e você pode trabalhar com alta lotação, pois você tem a mesma quantidade de UA durante o ano todo.
Informe IRRIGATERRA, Ano 1, nº 2, Agosto de 2004, p. 03.

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